exposição | expandir o gesto

Ale Catan, Cris Veit, Davide Marie, Mariane Lima, Maurício Kessler, Simone Marinho e Wes Barba

Se dizemos que a fotografia libertou a pintura do ofício da representação, quem poderá libertar a fotografia, se não ela mesma? A fotografia como registro este dada, fotógrafas/os ávidos e, principalmente, aparelhos programados, varrem o mundo captando imagens estáticas e em movimento.

A saída poética para a fotografia, entretanto, não reside no que ver, mas em como ver. É esse o gesto fundante de sua pratica artística. Como o poeta que entende que, mais do que inventar novas palavras, nos cabe dobrar, torcer, fissurar e suturar os signos que já conhecemos, provocando estranhamentos onde há comodidade e aproximações onde há fragmentação.

É na refuta por encerrar o processo de representação fotográfica na captura do mundo externo que se adquire consciência da fotografia como gesto e que estas/es artistas se encontram. Ao longo de um grupo de estudos coordenado por André Penteado, se debruçaram sobre estratégias visuais diversas de exibição no espaço expositivo e em publicações impressas.

A imagem enquanto esquecimento

Ale Catan atua profissionalmente como fotografo publicitário, ofício em que a imagem é mecanismo de idealizações e disparador de desejos. No projeto Antes de esquecer", todavia o artista se torna refém das incertezas da vida e finitudes da memória, diante do diagnóstico de Alzheimer de seu pal. Em meio à reconfiguração das relações familiares e da rotina, a fotografia se torna arquivo de objetos e gestos pare refletir então sobre a passagem do tempo que guarda, mas também apaga lembranças.

A imagem enquanto relação

No contexto de sua pesquisa sobre o amor, Cris Veit se descobre como objeto do olhar do outro em "Com um pouco de sorte, você nunca mais vai se apaixonar". Por meio de recortes em retratos feitos por ex-namorados, nos quais olha fixamente para a câmera, ela atualiza o interlocutor, antes masculino, por si mesma. A artista se coloca como objeto e sujeito da imagem, convidando o público a adentrar esse jogo de olhares próprio de um relacionamento. 

A imagem enquanto caminho

Davide Mari se dedica as diferentes formas de representar o espaço. Para a obra "Utopie: passeggiata lungo il fiume" percorre um território que permeou sua infância: o trajeto de 150 quilômetros que acompanha um rio em direção a sua nascente. Sem pretens5es descritivas, o rio as torna o ponto de partida da caminhada, entretanto escapa o destino da imagem, uma vez que o artista decide deixá-lo frequentemente fora do quadro. O resultado parece ser um mapa às avessas, em que ao ocultar o caráter denotativo conota-se a busca pela origem, seja a do rio ou do próprio artista

A imagem enquanto valor

Em "Moedas", Mariane Lima se debruça sobre o processo de construção simbólica do valor, noção intrínseca às relações de poder de classe, raça e gênero que investiga em sua trajetória. Deslocados de sua função original, objetos antigos passam a ser (des)valorados pela sua potencialidade enquanto obra e pela lógica do colecionismo, intrínseca ao mercado de arte. Com uma imagem escultórica, a artista atribui valor a coleção de moedas antigas de seu pai e coloca em tensão o valor da imagem e o valor do objeto, produzindo uma alegoria sobre o poder e contradição da representação.

A imagem enquanto matéria

Dentro do universo de multilinguagens em que Mauricio Kessler atua, a fotografia é hibridizada a outros métodos e experimentada como gesto de mediação entre imagem e matéria. Na obra "O teatro do Deus louco", são feitos desenhos e pinturas de frente para a câmera com a única finalidade de serem fotografados. Num jogo de tradução de uma imagem bidimensional em tridimensional e vice-versa, o artista projeta luz e sombra sobre desenhos e objetos, que ao serem registrados, são desmontados para serem exibidos como obra apenas por meio de fotografias.

A imagem enquanto presença

Fotógrafa e pesquisadora, Simone Marinho articula sua produção imagética com estudos sociais e de gênero. Visando discutir os processos de envelhecimento frente ao padrão de beleza atrelado à juventude, na série "Senhoras de biquíni", a artista se utiliza da estética editorial e da fotografia de moda para tornar um grupo de mulheres maduras ícones tropicais. A onipresença da luz natural e artificial, em conjunto com uma performance vigorosa das fotografadas, confere assertividade e poder à relação dessas mulheres com seus corpos.

A imagem enquanto retorno

Movido pela investigação sobre as relações de pertencimento, Wes Barba revisita seu antigo bairro, onde viveu a infância e parte da juventude em "Alfaia, horizonte perdido". Nesta jornada de conexão, o artista se revigora de curiosidade e fabulação, próprios do modo livre de se relacionar com o mundo de uma criança, para imaginar um território entre a familiaridade da memória e o estranhamento do presente. A experiência do retorno é de um bairro que não se revela, uma vez transformados o espaço e o artista.

Daniela Moura

Fotos por Helena Marc

SERVIÇO

Exposição “Expandir o gesto"
Artistas participantes: Ale Catan, Cris Veit, Davide Marie, Mariane Lima, Maurício Kessler, Simone Marinho e Wes Barba
Texto crítico: Daniela Moura
Organização: André Penteado

Visitação de 12.08.23 a 20.08.23

Lux Espaço de Arte
Edifício Vera: Rua Álvares Penteado, 87
Quinto andar | Sala 07
Centro | São Paulo SP

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