exposição | REBOTE [ retratado retratante ]

exposição

23 de abr.

Rodrigo Linhares

Os olhos são mais do que receptores sensoriais, são uma ferramenta sensível de compreensão do mundo físico. É através do olhar que primeiro compreendemos e apreendemos os processos de comunicação não verbal, assim como é também instrumento de comunicação com o entorno, como parte da interlocução para firmar e interligar com pessoas e grupos. Os códigos visuais ganham novos sentidos quando se introduz o exercício da fotografia. Nos dá a sensação de que podemos reter todos os signos existentes, imagens que podem existir fora do corpo do observador. Como uma antologia de imagens que ocupa espaço físico, expri- mindo o registro do olhar único para que os demais acessem.

A foto acaba se tornando um meio de narrativa e substrato de ligação entre as diversas formas de ocupar, seja em álbuns ou emoldurados pelo espaço, remontando histórias através da sua disposição. Uma narrativa com possibilidade de troca com o outro, como um meio de estabelecer relações, afeto e memória. Conceito já abordado por Nicolas Bourriaud, como estética relacional, em que coloca a arte num lugar de encontro, valorizando processos e vivências.

No processo de elaboração das fotografias da série Rebote [ retratado retratante ], Rodrigo Linhares se empenha em repensar os modos de representação das identidades, investigando a lógica e a linguagem do retrato como signo de identificação e comunicação. A vivência é o foco da produção e parte elementar para o trabalho. Dos encontros fotográficos, surge a cumplicidade entre Linhares e o retratado, em uma mutuali- dade de infinitas visões e sentidos.

Em uma relação intermediada pela lente da câmera, entre olho que vê pelo visor e o observado, a exposição Rebote [ retratado retratante ] é a partilha dos afetos, vivências dos encontros e a cumplicidade entre Linha- res com o retratado, posicionando uma inter-relação, como um jogo de espelhos, entre olhar e ser visto. Des- dobrando-se em uma construção imagética, através de uma lógica espaço-temporal fragmentada, arranjada e ordenada pelo olhar do artista, sendo mutável em cada nova montagem desse projeto.

Para o Lux Espaço de Arte, a série ocupa a sala como a esfera das relações humanas, espaço de desen- volvimento e de apresentação de tempos processuais ao longo da trajetória de Linhares. Para essa mostra, houve uma ação de retratar os ocupantes do Edificio Vera, somando a cadeia de relações interpessoais, criando e fortalecendo afinidades. Adicionando assim, novas camadas de envolvimentos em sua série, crian- do fissuras entre vestígios de acontecimentos anteriores com suas novas relações.

Na parede de frente à janela, uma imagem-instalação do registro do processo de montagem. Um jogo de espelho, ao apresentar uma grande imagem da sala invertida em um lastro do desenvolvimento de composi- ção caleidoscópica da expografia. Um registro entre o pensamento e o ensaiar experimental entre o próprio espaço e a inter-relação de tempos.

A metáfora do espelho se estabelece nas linhas de relações da composição espacial definida pelo artista, desde a troca de ângulos de uma mesma pessoa, até a imagem panorâmica invertida. Uma construção ima- gética processual entre espaços, tempos e diálogos.

Camila Marchiori

Fotos por Helena Marc