holofote • sidney philocreon

Por Sylvia Werneck

Publicado em 14 de Agosto de 2021

Muitas cosmogonias indígenas primam pela horizontalidade na importância das diferentes formas de vida, ao contrário das matrizes ocidentais, que concebem o homem como o centro de tudo. Sidney Philocreon nasceu na Amazônia e esta origem fertilizou sua maneira de estar no mundo, mesmo tendo fincado raízes na babilônia paulistana. O desenho está sempre presente em sua produção - como forma, como palavra ou como delineamento do espaço - e aparece como força de desígnio; o grafite depositado na superfície projeta utopias de reconexão entre homem, bicho e planta. Estes traços, quando retratam o artista, são sempre fragmentados, ora um braço, ora uma perna, mas não seu corpo inteiro, como se a continuidade de sua própria imagem se desse na comunhão com o que lhe é externo, mas ainda assim, talvez, complementar. Com frequência, objetos tridimensionais alimentam a composição, e aí povoam as instalações com as cores ausentes em seus desenhos.

O que se vê nos trabalhos é apenas parte do que eles podem conter. A aparente leveza das formas resulta de elucubrações mentais sobre angústias e mazelas e faltas contra as quais pouco podemos fazer individualmente. Mas, e se o artista oferece uma semente para plantar ou uma música para escutar ou um repositório/livro onde se possa deixar registrada uma história? Talvez assim seja possível fazer florescer redes de afetos compartilhados. As obras se apresentam primeiro aos olhos, convidam a esmiuçar os detalhes dos traçados, os sentidos das palavras, a textura dos elementos que se projetam no espaço. Aquelas que pedem interação posterior, por vezes através da tecnologia, permitem que alonguemos nossa fruição, que ganha corpo à medida que aprofundamos reflexões sobre o que experimentamos antes. Na contramão do ritmo apressado do viver contemporâneo, Sidney Philocreon nos convida ao silêncio da maturação lenta do sentir.

• Joias da coroa, 2007

• Skyline, 2008

• Oferenda, 2008

• Sem título, 2008

• As ilhas – da série “Livros em branco”, 2011

• Sem título (detalhe), 2012

• Manual de voo (detalhe), 2015

• Hits and beats, 2017

• Mágica, 2017


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