holofote • yohana oizumi

Por Sylvia Werneck

Publicado em 19 de Setembro de 2021

Fazer arte é trazer para o agora o que não existia – daí o uso do verbo criar, frequentemente associado a um estado mental que mescla empenho prático e inspiração (nem sempre) metafísica. A obra resulta, então, da combinação desejo + entrega. No trabalho de Yohana Oizumi, o material opera como canalizador do processo. É a partir do enfrentamento emocionalmente ativado com a fisicalidade que a artista chega à concretização da forma. É seu próprio corpo que se lança vigorosamente neste enlace, com intensidade tal que, muitas vezes, o esgotamento físico determina o fim da performance.

Os materiais privilegiados são aqueles de maior plasticidade, mas que também carregam conceitos ligados a um propósito. Assim, lápis ou carvão estão no campo do desenho, ou seja, do desígnio; a argila (ou barro) pode ser moldada, enquanto a linha serve ao tecer. Todos estes termos denotam a criação, ou melhor, a construção de alguma coisa a partir de um desejo.

Em várias ações de Oizumi esta construção envolve também destruição, especialmente quando o elemento escolhido é o barro. A performance “Sub versões” começa com a artista diante de uma réplica em argila de seu corpo deitado. Ela então usa seu peso, mãos, pés, joelhos e cabeça para destruir este seu duplo, reduzindo-o a uma massa disforme. A seguir, modela-a freneticamente até torná-la uma proto-figura feminina. Igualmente violenta é esta relação em “Getsemani”, na qual o barro, apesar de estar aninhado em seu colo, é escavado e golpeado até que seja eliminado qualquer referente predeterminado. O questionamento das escrituras bíblicas aparece com destaque, especialmente quanto ao lugar reservado à mulher nestes textos, todos escritos por homens. A esta “lei”, ainda reproduzida hoje, a artista responde com a recusa à domesticação feminina, trazendo ao debate violações históricas que
não podem mais ser normalizadas.


• S/ título II (2020) Série Getsemani


• Sub versões (2019)


• s/ título (2019) Série Depois do 7º dia


• Do pó ao pulso (2020)


• Reverências II (2021)


• Nosso corpo ritual (2020)


• Betsabé (2020) Série Entranhas


• O cordeiro (2021)



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