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A, um heterônimo

A partir da seleção do Segundo Edital de Ocupação do Lux Espaço de Arte, o coletivo A, um heterônimo, nesta ocasião composto pelas artistas Adalgisa Campos, Laila Terra e Nilva Rigo, apresenta uma proposta de ativação do espaço do Lux como espaço de convívio, discussão e produção:

MAIS VINHO QUE ROSA OU: MANUTENÇÃO TAKES ALL THE FUCKING TIME OU: UM VIVEIRO-ATELIÊ-LOJA-SALA-DE-VISITAS-FEMINISTA-OBRA-DE-MANUTENÇÃO

A, um heterônimo

Entre as práticas cotidianas e artísticas, é possível fazer uma separação hierárquica?

A pergunta surge a partir da proposta de A, um heterônimo, de fazer um viveiro-obra como método de desenvolvimento diário processual da prática artística. A ocupação de A escancara que a produção criativa não existe sem muita manutenção (ou trabalho do cuidado) - algo incômodo, porém imprescindível, que sempre recai com mais ênfase sobre as mulheres. Esse estado de coisas se deve às estruturas patriarcais, portanto, as reflexões feministas são obrigatoriamente políticas.

Partindo do Manifesto de Mierle Laderman Ukeles, uma arte feminista opera orientando-se por um instinto de vida: busca a unificação, o equilíbrio e a sobrevivência. É esse fazer junto que A propõe através do compartilhamento dos processos de criação e desenvolvimento de trabalhos, conver- sas e trocas com o público. A, um heterônimo, é um corpo coletivo que se apropria de referências de outras artistas para gerar obras de autoria compartilhada, numa agência oposta ao instinto de morte - separação, individualidade e vanguarda por excelência.

Como um ateliê ativo, A ocupa o espaço com referências e apropriações para gerar experiências e compartilhar estudos abertos sobre o trabalho, contrapondo-se ao padrão hierárquico masculino de execução. O viveiro-obra surge para articular as questões de forma horizontal e feminista, sem impor-se como um discurso único e homogêneo, mas desenvolvendo práticas que criem e expres- sem ideias, necessidades e desejos. Um ambiente livre para experimentar, conhecer, comprar, discutir, ler, pesquisar, descansar, contemplar e partilhar.

Essas atividades, entendidas como parte da experiência artística, nos levam à manutenção: é preciso arrumar, cuidar, limpar e conservar. A propõe a manutenção como pertencente ao campo da arte, abolindo a hierarquia entre os fazeres. Da criação à manutenção, o viveiro não se apresenta como obra pronta, mas sim, como um canteiro em desenvolvimento, onde as tarefas cotidianas e as práticas artísticas são complementares e igualmente importantes.

Camila Marchiori e Sylvia Werneck

Fotos por Helena Marc

SERVIÇO

Ocupação Mais vinho que rosa ou: manutenção takes all the fucking time ou: um viveiro-ateliê-loja-sala-de-visitas-feminista-obra-de-manutenção
Artista: A, um heterônimo
Texto crítico: Camila Marchiori e Sylvia Werneck

Visitação de 27.05.23 a 24.06.23

Lux Espaço de Arte
Edifício Vera | Rua Álvares Penteado, 87
5º andar | Sala 7
Centro histórico | São Paulo SP

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